Identidade das vítimas do tiroteio entre traficantes e policiais durante operação no Complexo de Israel.
- Patrick Oliveira
- 24 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Três homens morreram com tiros na cabeça ao passarem pela Avenida Brasil
O filho de Renato Oliveira (com camisa vermelha e preta) chora no Hospital de Bonsucesso — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Júlio Santos da Costa, amigo de Paulo Roberto de Souza, disse que a vítima trabalhava como motorista de aplicativo e chegou a ser socorrida por um passageiro. No entanto, apesar de ter sido levado para o Hospital Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, Paulo não resistiu.
— A bala entrou por trás do carro e pegou, infelizmente, na cabeça dele. O passageiro socorreu, ajudou e veio até aqui junto com um policial, mas ele veio a óbito. Ele era motorista de aplicativo, estava trabalhando, mais um trabalhador perdendo a vida por conta desses tiroteios no Rio de Janeiro — contou Júlio Santos da Costa.
Segundo Júlio, a vítima deixa filhos, neto e a esposa. O vigilante afirma que a lembrança que o amigo deixa é de uma pessoa honesta e trabalhadora:
— Ele era muito honesto, trabalhador, mas o Rio está isso aí. Agora tem de descobrir de onde veio essa bala e prender os marginais dessa guerra constante na cidade.
Outro morto é Renato Oliveira Alves Reis, de 48 anos, também baleado na cabeça. Ele estava sentado em um banco do ônibus 493 (Central x Ponto Chic), da empresa Tinguá, cochilando, quando a bala o acertou. Ele havia sido levado para o Hospital Federal de Bonsucesso em estado gravíssimo.
Renato Oliveira Alves Reis, morto baleado na cabeça em tiroteio na Avenida Brasil — Foto: Reprodução TV Globo
O filho de Renato Oliveira chegou ao Hospital Federal de Bonsucesso antes das 9h, abalado com a notícia de que o pai fora baleado na cabeça dentro do ônibus na Avenida Brasil. Ele não quis se identificar nem falar com a imprensa, saiu da unidade hospitalar para receber Adonias Cláudio dos Santos, de 39 anos, amigo de Renato que também estava no ônibus quando o tiroteio começou. Os dois deram um abraço emocionado e voltaram juntos para o hospital.
Renato Oliveira morava no bairro Cerâmica, em Nova Iguaçu, e trabalhava numa empresa terceirizada que oferece serviços à Marinha. Nesta quinta-feira, decidiu que iria fazer o café da manhã no trabalho, colocou refrigerante e mortadela na bolsa e esperou o amigo Adonias Cláudio dos Santos para pegarem o ônibus 493 (Ponto Chic x Central).
O amigo de Adonias Cláudio dos Santos foi baleado no tiroteio: "Eu olhei pra trás e vi o sangue saindo da cabeça dele. Como que vai ser agora?" — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Segundo Adonias, o tiroteio começou rapidamente e obrigou os passageiros do ônibus Tinguá x Central a se jogarem no chão. Renato, contudo, não teve tempo de reação:
— Eu olhei para trás e vi o sangue saindo da cabeça dele. Como vai ser agora? Nós éramos vizinhos, nós víamos todo dia! A realidade do Brasil é essa, a gente sai de casa e não sabe se vai voltar.
Três baleados foram levados para o Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo. Paulo Roberto de Souza, de 60 anos, que chegou à unidade já morto, com um tiro na cabeça. O motorista de caminhão Geneílson Eustáquio Ribeiro, de 49 anos, também ferido na cabeça, morreu após ser transferido para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), onde passou por uma craniectomia. Geneílson trabalha em uma empresa especializada em transportes e fretes, a Velocitta.
Como fazia diariamente, Geneílson levantou antes de o dia clarear, nesta quinta, tomou café e tratou do cachorro de estimação.Antes de sair, por volta das 5h45, foi até o quarto e carinhosamente se despediu da mulher, a diarista Rejane Maria Alves, recomendando que ela ficasse com um celular na cama para não correr o risco de perder a hora do trabalho. Por volta das 8h, Rejane já estava trabalhando numa casa, quando uma pessoa trouxe a notícia que jamais queria ouvir.
O motorista de caminhão Geneilson Eustáquio Ribeiro — Foto: Reprodução
O que se sabe, por enquanto, é que o motorista dirigia um caminhão da empresa em que trabalhava, próprio para transportar pequenas cargas, quando seu caminho de uma entrega foi interrompido por uma bala perdida. O tiro perfurou o para-brisa dianteiro do veículo e atingiu a cabeça do motorista, num dos acessos da Avenida Brasil, entre a via expressa e a Rodovia Washington Luiz. Pai de dois filhos, uma menina de 10 anos e um rapaz de 23, este último fruto de um relacionamento anterior, Geneílson é descrito pela família como uma pessoa alegre e trabalhadora.
— Ele é muito trabalhador e uma pessoa alegre. Costuma já levantar sorrindo e cantando
— disse Rejane, enquanto aguardava notícias do marido no Hospital Adão Pereira Nunes.
Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos, teve perfuração na coxa direita, com lesão superficial. Após avaliação médica, ela recebeu alta hospitalar com orientações. Ao GLOBO, a operadora de call center e moradora de Duque de Caxias contou que estava a caminho do trabalho, em Olaria, na Zona Norte, quando foi baleada. Num primeiro momento, a mulher revela que não percebeu o ferimento.
— Eu estava tentando fugir da confusão, estava andando e ouvi um barulho forte. Só que eu estava tão nervosa que só percebi quando senti a minha perna queimar. Eu botei a mão, vi que era sangue e fiquei desesperada porque as pessoas estavam gritando que eu tinha levado um tiro. Sou grata a Deus por terem me ajudado e me dado apoio. Agora só desejo agradecer pela minha vida — ressalta Alayde.
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